Star Wars VII: The Force Awakens

Léo MesquitaCinema Leave a Comment


Star Wars the Force Awakens é um western de Sessão da Tarde travestido de Jedi. Em essência, quase nada lá é Star Wars. Muitos dos elementos clássicos da franquia parecem ter sido usados somente como mero apelo publicitário para um filme vazio e completamente desconectado das trilogias anteriores, que não acrescenta nada que preste à mitologia da série. Do vilão gigantão que se pretende misterioso feito em CG fuleiríssimo (Snoke) ao roteiro com sólidas raízes no mais barato folhetim mexicano, que estabelece a máxima de que, em Star Wars, todo mundo é pai de todo mundo, tudo é um fracasso.

Nem mesmo X-Wings e Tie Fighters, que não precisariam fazer nada muito além de voar e dar tiros, têm o apelo das épicas batalhas das obras pregressas: falta peso, identidade e consistência em seus movimentos, balançam como piñatas presas no teto do estúdio. A Força, por sua vez, usada em enforcamentos telepáticos a 10 cm de distância das vítimas,​ não dá lá um efeito dramático muito diferente de simples mãos no pescoço.

Mas o que chega realmente a assustar é a superpopulação inacreditável de personagens medíocres de Force Awakens. Senhor e senhora Solo, por exemplo, antes dois dos personagens mais marcantes da franquia, transbordam pieguice em cenas que apelam até o último nanosegundo ao saudosismo dos fãs, como se estivessem lá somente para exploração desavergonhada de suas figuras icônicas. As cenas em que contracenam juntos parecem passar em slow motion, como que esperando pelas lágrimas de quem as está vendo (e os revendo). As gangues que invadem a Millennium Falcon em um outro determinado momento do filme é mais um bom exemplo de como redefinir o conceito de vergonha alheia ao nos agraciar com algumas das atuações mais patéticas da cinematografia contemporânea.

É óbvio que não é somente de péssimos coadjuvantes de que são feitos péssimos folhetins. É importante que os protagonistas sejam tão ruins quanto e, nesse sentido, Force Awakens não decepciona. É chocante a inaptidão na caracterização do stormtrooper dissidente (Finn), um dos dois grandes protagonistas do filme. Seu pedantismo de azarão caricato é capaz de fazer incinerar a língua dos críticos mais ferrenhos de Jar Jar Binks. A outra protagonista (Rey), por sua vez, par romântico do stormtrooper pedante, passa quase o filme todo ofuscada por seu amor de verão, mas termina se redimindo razoavelmente a partir do momento em que não se vê mais obrigada a alimentar aquele romance barato e falsificado. Redenção essa que acaba por ser, ao lado de C3PO e do barrel roll da Millennium Falcon, os três únicos aspectos de Force Awakens que nos remete à tradicional qualidade narrativa de Star Wars.

E por fim, para piorar um bocado, como se tudo já não estivesse ruim o bastante, no lugar da figura imponente do maior vilão de todos os tempos temos a figura do vilão mais xiliquento já concebido pela mente humana (Kylo Ren). Talvez devido justamente aquele seu temperamento histérico tenham lhe colocado um capacete em forma de focinheira, para evitar que saísse por ali mordendo todo mundo. Na verdade, destempero é a tônica dos antagonistas de Force Awakens, como pode-se constatar pela figura do general da tropa de stormtroopers (General Hux) em cena que se faz referência descaradamente forçada a Adolph Hitler e a seu exército nazista, com direito a saudação ao führer e tudo mais. Uma baixaria semiótica que fecha com chave de ouro o festival de impropérios que chacinaram sem piedade tudo que foi construído em Star Wars até hoje sob a égide de George Lucas, sempre massacrado por uma horda de nerds psicóticos que não saberia soletrar d-r-a-m-a-t-u-r-g-i-a.

Nerds esses que, sob a tutela de J. J. Abrams (que sempre brilha FORA daqui), sequestraram a obra de seu criador e terão que pagar por isso se forçando a adorar um filme que representa nada mais do que a morte de tudo aquilo que os havia transformado em fãs.

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